[ Do ano ou do século, mas ...
Deve haver algures alguém que contabilize ou defina qual terá sido o disparate da década, tal como há a foto do ano, e outras coisas assim que têm o estranho dom de combinar o definitivo, o efémero e o supérfluo. Um três em um. Sendo tão definitivo, efémero e supérfluo como qualquer outra coisa, sugiro como disparate da década o que eu hoje ouvi.
Comecei por ouvir o disparate num noticiário de manhã do Euronews. Chamou-me a atenção ouvir o locutor dizer que dois gémeos tinham nascido com uma década de diferença. Sem conseguir acompanhar o noticiário fiquei a pensar que talvez fosse um caso de embriões que tivessem sido separados, que um tivesse sido congelado e só agora tivesse nascido, se é que isso é possível. Enfim, foi um pensamento fugidio sobre algo que ouvi de raspão e da qual não consegui repetição.
No noticiário da RTP à noite a notícia apareceu de novo, parecendo uma cópia simples da notícia original, um copy-paste que alguém se limitou a traduzir para o locutor ler sobre as imagens. Vi a notícia no noticiário da RTP e escandaliza-me que ou ninguém tem dois dedos de testa para perceber a dimensão do disparate que vieram a dizer, ou a notícia não passou pelos olhos de ninguém. Em resumo, ou todos aqueles por quem passam as notícias são burros, ou as notícias não passam por ninguém.
Fui ao site da RTP rever o noticiário e lá está a notícia que começa aos 29'23''. E aí o pivot diz que "nos Estados Unidos dois gémeos idênticos nasceram com uma década de diferença. Marcelo nasceu nas últimas horas de 2009, nos últimos minutos da primeira década do século, e Stefano nos primeiros minutos deste ano, desta segunda década." O resto da notícia são banalidades ainda mais desinteressantes, o que é um prodígio pela negativa. Repare-se no texto que acompanha a notícia: INSÓLITO: Gémeos idênticos da Florida nscem com década de diferença:
No noticiário da SIC à noite o assunto também apareceu, mas aqui devidamente tratado. Alguém com dois dedos de testa pegou na notícia tal como veio da agência noticiosa ("gémeos nascem com década de diferença") e tratou o assunto. Deve ter pensado "Como pode acontecer tal coisa? Nascerem com uma década de diferença"? Na peça jornalística o disparate foi esclarecido. Foi um nascimento banal de dois gémeos que, natural e obviamente, nascem com um intervalo de segundos ou minutos, no máximo. Só que um nasceu às 23h59' de quinta-feira, 31 de Dezembro de 2009, e o outro pouco tempo depois já depois da meia noite e, por isso, já na sexta, dia 1 de Janeiro de 2010. E por causa de o ano acabar em zero (2010) alguma mente com uma baixa densidade de neurónios achou que tinham nascido em décadas diferentes.
Quem na SIC tratou a notícia teve o cuidado de ir perguntar se era assim mesmo ou não. Foi entrevistado o vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática que explicou que uma década é um conjunto de dez anos, que começa no 1 e acaba no 10 e lembrou que as comemorações da passagem do milénio de 1999 para 2000 foram matematicamente erradas porque o último ano do milénio, de um conjunto de mil, foi o ano 2000 e que o milénio só começou no ano 2001, pelo que a primeira década termina no fim do corrente ano, 2010. Ressalvou que apesar da correcção matemática as pessoas ligam aos números - como a tantas outra futilidades, digo eu - e a maioria não quer saber da correcção matemática. E assim devidamente esclarecido o disparate da notícia original a SIC fez uma interessante peça jornalística.
Voltei ao site da RTP para ouvir, de novo a notícia, e não ouvi em momento algum que o nascimento tenha ocorrido com minutos de intervalo. Ouvi apenas, de novo, o mesmo disparate: "dois gémeos idênticos nasceram com uma década de diferença". Já é disparate suficiente dizer-se que 2010 é de uma década diferente da de 2009, mas daí até dizer que há uma década de diferença entre aqueles dois nascimentos separados, na verdade, apenas por alguns minutos é burrice vergonhosa.
É triste o exemplo da RTP. Costuma ter nos noticiários, os da manhã pelo menos, uma coisa a que chama Bom Português e onde pergunta a pessoas na rua como se escreve determinada palavra ou expressão que podem suscitar dúvidas. No final uma voz diz "assim se escreve em Bom Português". Se há o "assim se fala em Bom Português", também devia haver o "assim se pensa em Matemática correcta". E se antes tivessem visto a notícia bem tratada pela SIC deviam dizer para si próprios "assim se faz bom jornalismo".
Talvez os jornalistas da RTP não se importem se lhes disserem que o salário deste mês só será entregue daqui a uma década, certamente não lhes fará pensar sobre o assunto porque ignoram o que seja uma década.
E por fim o mais irónico, ou triste, já nem sei. O pivot que leu e disse a notícia foi José Alberto Carvalho o actual Subdirector de Informação segundo o site da RTP onde surge uma sua nota biográfica.
Domingo, seis e pouco da manhã. Enquanto preparo o pequeno almoço ligo a tv para ver alguma coisa que esteja a dar "A esta hora não deve haver nenhum canal nacional, é melhor ir para os estrangeiros", pensei eu. Na 1 havia televendas de cenas para minimizar a pança, e a carteira também. Busco uma caneca, um prato, os guardanapos, e mudo o canal: RTP 2: atletismo! "Uau! o que eu gosto de atletismo!". Deixei ficar.
Fui arranjando as coisas enquanto espreitava sobre o ombro e tentava acompanhar o relato. "Directo", dizia no canto superior esquerdo logo por baixo do logotipo da RTP 2.
"Directo?" pensei "De onde a esta hora? Está lá Sol, é manhã mas o Sol já vai alto."
Café, leite, fruta, mais coisas para a mesa. Por baixo do "Directo" dizia outra coisa, que não recordo com exactidão, mas remete-me a memória para algum campeonato de atletismo. Não importa.
Enquanto acabava de preparar tudo, estava a acabar uma estafeta, e a equipa portuguesa acabou em segundo. "Boa, bom trabalho!" felicitei-os eu anonima e silenciosamente. Mas a curiosidade quanto ao sítio aumentava. "Onde será isto que já lá é meio da manhã? Se é em 'Directo'..."
Pão, compota, talheres, e sento-me. Vejo a Naide Gomes, pouco depois o Obikuwelu (é assim?...). Vislumbrei uma indicação por baixo do número que cada atleta tem no peito, qualquer coisa começada por L e acabando em 2009. "Letónia, será? Para já ser manhã alta? Ou bastará que seja no Luxemburgo? Bom... também pode ser o nome de uma cidade, e há tantas começadas por 'L'..."
E de repente PIMBA: grande plano de um atleta e leio num grande o que diz por baico do número dele: Leiria 2009.
LEIRIA?!?!? Isto é em Directo de Leiria?!? Como se aqui o Sol ainda não nasceu?!? É o dia mais longo do ano, mas, caramba!, não abusem! Se eu morasse nos Açores, aceitava que aqui fosse ainda aurora e em Leiria já o Sol estivesse alto, mas não é o caso. E, depois, mesmo não estando o estádio cheio, está lá muita gente, coisas estranha para o portuga numa madrugada de Domingo. E com crianças pequenas também!... E bem dispostos a esta hora...
Completamente à toa procuro no teletexto uma salvação para a confusão, procurando descobrir que raio é aquilo que estou a ver. Para ajudar a programação começa só às 07h00, "daqui a 45 minutos!..." reparei.
Pois bem, o que estou a ver não é 'Directo' Já foi 'Directo' mas agora já não. É só 'Directo' de ontem. Foi gravado ontem directamente com o 'Directo' escarrapachado no ecrã. E agora, quem fez o disparate de deixar emitir aquilo com o 'Directo' que já não é - e que não é coisa que nunca se tenha visto, é recorrente - devia também andar com um 'DISPARATEI' escarrapachado na testa.
Já no ano passado andava pela rádio um anúncio que, na minha tão modesta opinião - e não mais que isso - eu achava estúpido. A época do produto parece ter passado e deixei passar também a oportunidade de o comentar aqui.
Há meses o anúncio voltou... São de uma marca de pneus que não vou identificar. Primeiro por cautela jurídica e não quero levar com um processo de difamação no valor da dívida pública da UE, depois porque não sou especialista em pneus e até posso estar a denegrir um bom produto.Mas o anúncio, caramba, é tão estúpido!!!
É mais ou menos assim: uma rapariga, que diz o nome mas não fixei, diz algo como "Estou apaixonada. Os pneus XYZ unem o design italiano à tecnologia holandesa..." e rebéubéu pardais ao ninho.
Chamo a atenção para o ponto final depois de 'apaixonada'. Eu não sei se o texto original tem ponto ou vírgula. Lembro que é um anúncio de rádio, pelo que as pausas são necessariamente minimalistas. Se for um ponto então não tem de haver necessariamente uma ligação entre o estado amoroso da rapariga e o pneu cujas virtudes ela descreve. Mas também pode ser uma vírgula, e então a descrição do produto - em voz acalorada, sublinhe-se - tem relação e pode ser a causa de paixão.
Esperando não ter razão, eu acho que o que se pretende dizer é mesmo que ela está apaixonada pelo pneu, e que isso até vale a pena porque ele tem design italiano e tecnologia holandesa.
Vamos por partes. (Longo suspiro...)
Ser de tecnologia holandesa diz-me tanto quanto se fosse de tecnologia portuguesa. Faz-se em Portugal tanta coisa retrógada e quase neolítica como se fazem produtos com qualidade mundial e com a melhor tecnologia que hoje existe. A nacionalidade da tecnologia, se isso existe sequer, a mim não pega.
O design italiano é argumento para quase tudo, qualquer dia até para bonbons. Que raio é que um pneu pode ter de design italiano?!? Ser redondo? Ser preto? Andar à roda quando o carro anda?!?!? Talvez se estejam a referir ao piso do pneu, que foi desenhado por estilisas, mas então calma! É que o desenho do piso é um elemento fundamental para a eficiência do pneu. Não basta desenhar sulcos ao calhas, tem de haver formas e dimensões específicas para que o cada pneu, consoante as velocidades a que rode, se agarre sempre à estrada e escoe a água por cima da qual venha a passar. Será que a tecnologia holandesa não chegou ao piso? Será o piso do pneu desenhado apenas para ter estilo?!? Se assim for, também não me convence.
Por fim...
É verdade que não somos a Noruega, que é o país com o melhor índice de vida, mas também não estamos assim tão mal. Temos aqui uma rapariga portuguesa, aparentemente informada, urbana, eventualmente moderna e outras coisas que posso inferir pelo facto de anunciar publicamente o seu nome para um anúncio. Como é que uma moça destas se vai apaixonar por um pneu? Por um pneu?!? Isto está assim tão mal que já há quem se apaixone pelos pneus? Ou está o mercado de trabalho tão mau que até há quem se disponha a dizer disparates sem sentido só para ganhar a vida? Se for isso, ainda percebo. Mas continuo a achar o anúncio estúpido.
Num instante pontual de devaneio senti uma pequena mágoa. Se lhe desse sabor seria agridoce. Lembrei-me que hoje é o último dia da Feira do Livro. Aquilo que, há uns anos, era um ritual anual imperdível, vinha sendo algo praticamente impossível de seguir.
Este ano, porém, acabou por ser possível. A mágoa é pequena porque fui lá, e por isso também é doce. Só não é melhor porque só pude ir uma vez e quase não vi nada, e porque só comprei dois livros, o que já de si foi um grande esforço. E lembrei-me que agora só para o ano posso repetir o prazer.
O instante que despoletou a mágoa foi uma fracção de zapping em que 'passou' o Prof.Marcelo na sua banca de livros semanal. Acho uma figura triste. Aquela pessoa a fazer aquele papel é mais ridículo que um vendedor ambulante. Apesar da fama de pouco dormir e muito trabalhar, poucos devem acreditar que o Prof.Marcelo saiba de facto, com conhecimento de causa, alguma coisa sobre cada um daqueles livros todos que a cada semana anuncia, todos como "muito bom", "notável", "fresco", "surpreendente", e outras adjectivações de circunstância.
E naquele instante pensei, ironizando, "olha, afinal a Feira do Livro não acabou, continua aqui neste triste espectáculo, todas as semanas...".
E triste é também, parece-me, o papel da pivot, de cujo nome agora não me lembro. No período da 'Feira' de livros tem um meritoriamente descarado semblante de frete. No resto do tempo parece limitar-se a lançar no tempo certo (ou combinado?...) os temas para o Prof. comentar. É incomparavelmente melhor que os cromos que a TVI tinha a fazer perguntas, que se percebia pelo simples abrir de boca que não faziam ideia do que diziam e perguntavam, mas não deixa de ser pouco mais que um cabide onde o Prof. vai largando argumentos. Mas, afinal, o programa é isso mesmo, não é? "As escolhas de Marcelo". Ele escolhe - antes - o que vai comentar, e depois comenta-as muito bem, claro. É pena que ele não seja entrevistado, contraposto, desfundamentado. Será difícil mas haverá quem consiga. Só que isso não vende tão bem o tempo, por isso não interessa, por isso não se faz.
Na semana passada houve uma equipa de futebol portuguesa que foi jogar à cidade de Nuremberga. Não sei, nem interessa aqui, qual foi a equipa. Ainda antes do jogo foi logo feita notícia do que ainda não acontecera, como é habitual na nossa televisão.
A reportagem sobre o facto, ainda não ocorrido, começou com imagens de oficiais nazis na segunda guerra mundial. Lembro que a pseudo-notícia era sobre um jogo de futebol em Fevereiro de 2008…
Após os primeiros instantes de incredibilidade, lá descortinei qual o sentido daquelas imagens para ilustrar a pseudo-notícia, e até encontrei alguma lógica. Se a notícia era do que ainda não aconteceu as imagens ou seriam virtuais ou do passado.
Ora Nuremberga que passado tem? Para o responsável pela reportagem Nuremberga é nazi ou, pelo menos, foi nazi. Só isso e nada mais.
O essencial de referência da cidade é que foi um bastião nazi. É verdade, foi o palco dos grandes comícios anuais do partido nacional socialista alemão, e também por isso foi lá que se fizeram os julgamentos dos responsáveis nazis capturados vivos.
Pessoalmente, entendo que reduzir a história de uma cidade a um facto revela uma estreiteza intelectual que, ultrapassando a burrice, raia a estupidez. Eu não conheço Nuremberga, nunca lá estive. Sei do passado nazi mas nunca reduziria o passado da cidade a isso. Tem de certeza mais.
Fui procurar…
Descobri que foi a capital não oficial do Sagrado Império Romano, que foi o centro do Renascimento nos territórios da actual Alemanha, que aceitou a Reforma Protestante em 1525 e que a Paz de Nuremberga, pela qual os Luteranos ganharam importantes concessões, foi lá assinada. Descobri ainda que o primeiro caminho de ferro alemão foi entre Nuremberga e uma cidade vizinha, em 1835, que os primeiros relógios de bolso foram de Nuremberga, que no século XIX se tornou o coração industrial da Baviera, ao ponto de a Siemens ser o maior empregador industrial da região. Na astronomia foram inúmeras as contribuições, bastando referir, como exemplo, que a parte principal do trabalho de Copérnico foi lá publicado, em 1543.
Terá, certamente muito mais para ver, e haverá mais para contar. Mas de certeza que não foi apenas nazi, felizmente!
Talvez haja uma equipa que vá a Paris e a reportagem comece com as imagens de Hitler no Trocadero a olhar para a Torre Eiffel, ou, inversamente, haja uma equipa que venha a Lisboa e ilustre a reportagem com as gravuras do regicídio de 1905, cujo centenário foi há pouco comemorado e está fresco na memória.
Irra!
É estranho o artigo de hoje de Vasco Graça Moura no DN. Tem o título L'UOMO È MOBILE e parece estar a falar de Luis Filipe Menezes. Embora este nome não seja referido, é isso que infiro do texto porque no final fala da aceitação ou não do debate com Marques Mendes. Por exclusão de partes parece-me que o visado seja aquele. Não tenho qualquer preferência por um ou outro candidato, nem sequer sou do PSD. Nem é isso que me interessa aqui. Graça Moura enuncia várias datas a propósito de vários de assuntos para sustentar a sua argumentação da mobilidade de opinião do visado. Excluindo a referência ao tal debate, Graça Moura enuncia catorze assuntos diferentes indicando para todos pelo menos duas datas em que o visado terá opinado contraditoriamente. Para dois assuntos refere até três datas. O detalhe vai ao ponto de indicar o dia exacto sendo que só num único caso indica, abstractamente, apenas o mês: "Em Abril de 2005...". Assim, doze assuntos com duas datas faz vinte e quatro datas, mais as seis datas dos dois assuntos com três dá um total de trinta datas. Não tenho Graça Moura por pessoa que diga coisas em vão, infundadas, pelo que para afirmar o que escreveu deve ter dados concretos, ou muito boa memória. Se não é de memória, deve ter ido apontando na agenda todas as citações de Luis Filipe Menezes para agora poder dizer quando ele disse isto ou aquilo. E deve ser uma agenda grande porque não acredito que ande a apontar só o que aquele diz e quando. Que mais apontará ele? O que vai almoçando? Os números do Euromilhões? As matrículas dos carros que passam? A data mais antiga referida é Maio de 2004, há três anos! Isto não é coisa de escritor ou ensaista, é trabalho de empregado de partido político entretido com bases de dados nas quais se procura sustento argumentativo para as reivindicações políticas. Não tenho de memória nenhum excerto de qualquer peça musical para contrapôr à última frase do artigo. Aí Graça Moura ironiza, a propósito do visado, com uma frase de uma obra de Verdi, que "L'uomo è mobile / qual piùma al vento...". Não sei se Graça Moura "è mobile" ou não, mas com este artigo fiquei com a opinião que é picuinhas. Talvez eu também seja, ao contar as datas e tudo isso, mas não sou pago para ser comentador. O artigo está aqui.
No Diário de Notícias de 13/08 um artigo com o título “RTP corta regalias a estrelas” dizia que “A RTP está a renegociar a sua relação contratual com alguns dos seus apresentadores” e que “Até aqui, por exemplo, Merche Romero (que não fazia parte dos quadros da empresa) recebia um salário fixo, na ordem dos 7500 euros, independentemente dos programas que apresentasse”.
7500 euros por mês? Mil e quinhentos contos?!?
Nunca suportei ver um programa apresentado pela senhora. O meu mau feitio tem uma elevadíssima intolerância à vacuidade de discursos e de sentido. Talvez a vacuidade não lhe seja natural, sendo apenas decorrente da natureza do programa. Pode por isso não ser culpa dela mas de quem lhe paga para fazer aquelas coisas. Por curiosidade gostava de saber quanto pagarão a outros, menos estrelados, mas mais plenos de sentido e utilidade, pelo menos para mim.
Seja a vacuidade natural ou imposta pela forma do programa, os 7500 euros são ofensivos, não só pelo inexplicável volume como, sobretudo, por serem obrigatória e compulsivamente suportados por todos, mesmo os que não querem ver, ou não podem.
No dia 25/07/2007 li uma notícia do Jornal de Notícias segundo a qual “Semáforos e fontes pagam taxa de TV”
Lia-se que a Associação de Municípios pedia ao Governo a revisão da lei da taxa de televisão. O serviço público de televisão, que entendo dever existir é pago por uma taxa incluída no serviço de fornecimento de electricidade. Nesse artigo lia-se que “Sistemas de rega e de iluminação pública, semáforos, furos de captação de água, painéis de informação e até as casas de banho públicas estão obrigados ao pagamento da taxa de televisão, pelo simples facto de consumirem energia”.
Ou seja, tudo o que usar electricidade paga taxa de televisão, mesmo que não veja aquela televisão.
A bem da Democracia que deve garantir igualdade a todos, mesmo que alguns não gostem, bem como a apenas alguns mesmo que a maioria não goste, acho bem que o Estado suporte um serviço público. A fundamentação do raciocício é simples: o Estado, embora não pareça, somos nós e existe para gerir e regular o que é de todos, a coisa pública, a Res Publica em Latim.
Chateia-me ser obrigado a pagar o que para mim é fútil, vazio, inútil. Mas talvez não o seja para outros, e esse é o preço da Democracia, e por isso tolero o pagamento.
O que me chateia mais é o volume do que se paga para um retorno frequentemente tão baixo. A relação preço/qualidade é, acho eu, má. Se calhar por haver tanto a pagar, tanto desperdício, tantas estrelas do jet set, tanto espalhafato, tantas reportagens em directo do que ainda não aconteceu ou já acabou, se calhar foi para poder pagar tudo isso que o Governo, pela mão do legislador, determinou que tanto eu como os semáforos, bebedouros, painéis de informação, paragens de autocarro, casas-de-banho públicas e outras coisas assim paguem aquela taxa. Aritmeticamente, distribuindo por todos custa menos. O problema é que quem paga a iluminação pública são os munícipes, que por sua vez são na maioria consumidores de televisão.
Por mim, enquanto pagante, não sei se me assemelho mais a um bebedouro ou a um semáforo...
[ blogs
[ smobile
[ Informação
[ TSF
[ BBC
[ Astronomia
[ StarDate Online - Your Guide to the Universe
[ Observatório Astronómico de Lisboa
[ Aprender