Segundo o Público a Assembleia da Madeira retarda emissões em directo na internet para poder cortar “cenas desprestigiantes”.
O que é uma cena desprestigiante? Para começar deverá ser algo que tire prestígio, o que neste caso não parece fazer sentido pois pelo que se tem passado nos últimos anos prestígio é algo que há muito a Assembleia da Madeira não tem. Porém, por definição do cargo, pela sua origem e pelo que deve representar – que é diferente de o representar de facto… - uma Assembleia tem prestígio. Deixemo-los então argumentar que o têm.
A vontade de ter o poder de retardar cortar parte da mensagem é um mesquinho acto de censura, e uma feia nódoa na ética que a política devia ter.
Aliás, o facto de o retardo na emissão não ser universal e democrático, pois ainda segundo a mesma notícia, e cito, isso apenas se aplica “para os gabinetes dos grupos parlamentares da oposição e para a sala de imprensa, agora igualmente privada da emissão em áudio, é mais uma face da birra. Às imagens em directo apenas pode aceder-se nas instalações do PSD e dos colaboradores directos do presidente, dos quais parte a ordem de corte para a régie.”
Entendo que nada deverá ser cortado, nestes casos. As coisas são desprestigiantes para quem as pratica. O desfraldar de uma bandeira nazi no parlamento é um disparate que rotula quem o faz. As reacções disparatadas da maioria rotulam-na também.
Esta história faz-me lembrar duas coisas:
- primeiro, o Diácono Remédios, que se opunha às coisas com o argumento de que “qualquer dia vai-se a ver e andam todos a fazer isto”, ou seja, mais vale proibir tudo desde já para que nunca possa acontecer, mesmo que não sendo proibido acabasse por nunca acontecer.
- segundo, este poder de atrasar a emissão de televisão lembra-me um filme de 1973 de George Roy Hill com o Paul Newman, Robert Redford e Robert Shaw, em que os dois primeiros se organizam para pregar uma fenomenal partida a este último, um gangster dos grandes. Para tal criam uma agência ilegal de apostas em corridas de cavalos onde o convencem a apostar com base no relato radiofónico que estão a ouvir. O que o intrujado não sabe é que o relato é verdadeiro mas tem uns minutos de atraso pois em vez de ser a voz do locutor que está a assistir à corrida, é a de um comparsa que nos bastidores lê o que se passou a partir do telégrafo e finge um relato a sério. Sabendo mais cedo quem verdadeiramente ganhou conseguem convencer o gangster a apostar no cavalo errado e fazê-lo perder muito dinheiro. Ah! O filme chama-se
A Golpada. É o que isto me lembra. Só é pena serem tão frequentes.