[ Tão lindos, todos queimad...
Eu gosto do Halibut, é um bom produto, mas não gosto do anuncio à sua mais recente variedade. Anda no ar da rádio um anúncio ao Halibut Derma Spray em que uma senhora de voz melosa e contente fala com doçura das crianças, "os nossos índios ficam todos peles-vermelhas...". Só que di-lo num tom de voz como se estivesse a admirar uma criança toda bem vestida e penteada, toda bonitinha.
Reitero a minha confiança no produto, mas da maneira que a senhora fala parece que ficam lindas as crianças assim todas queimadinhas. Será essa a ideia? Deixem-nos queimarem-se todos que depois o Halibut trata tudo?
Está 'no ar' um anúncio do Pingo Doce que é super azedo. Começa e dura até ao fim com uma canção horrível, nada melodiosa e mal cantada, que consegue durar mais de um minuto. Um minuto de rádio custa muito dinheiro, fazer um anúncio também. Pois com o dinheiro que o Pingo Doce gasta consegue-me perder como cliente. Terá sido esse o sentido do investimento? A Staples tem um anúncio em que, com piada, faz um elogio a quem autorizou aquele anúncio. Será que quem autorizou este anúncio do Pingo Doce já o ouviu? Terá morrido do choque, ficou em coma, ou simplesmente tem mau gosto?
O anúncio consiste numa canção que diz que se pode ir ao Pingo Doce de Janeiro a Janeiro, e não sei que mais. Parece uma imitação de uma canção dos Deolinda, mas mal copiada e mal cantada. Tem lá atrás o som enviesado de umas guitarras, talvez procurando invocar a guitarra portuguesa, mas parece ser tocada por gatos com Parkinson. Depois, ao fim de uns segundos que me parecem séculos, aparece um ritmo qualquer, uma percursão estranha... Talvez eu o consiga gravar e colocá-lo aqui, mas não sei se suporto o sofrimento...
Eu até gosto do Pingo Doce, mas este anuncio é arrepiante. Se este anúncio passar na rádio da próxima vez que eu estiver a caminho do Pingo Doce, de certeza que vou a outro lado!
Há na rádio que mais oiço, a TSF, um anúncio a um hotel no Porto. A TSF emite em Português, para Portugal via rádio e para todo o mundo pela internet, mas sempre em Português, com natural e óbvia excepção para a música e discursos de estrangeiros.
O tal anúncio é todo em Português, louvando a maravilhosa vista que se tem do Porto, das instalações, do Spa, do restaurante, etc.
Se o anúncio é dito em Português, numa rádio que emite em Português, é de presumir que o público alvo seja Português-falante. A ser assim estranho a frase final do anúncio: “enjoy the unique”.
Que raio!... vão tão bem em Português e depois no final sai aquela coisa. não tenho qualquer problema em entender Inglês, é como uma segunda língua, mas para que serve isto?
Um anúncio numa grande rádio nacional como a TSF, sobretudo um que passa a várias horas quase todos os dias, não deve ser barato. O tal hotel não deve ser um alojamento qualquer, a acreditar nos elogios subjacentes ao tom quente do discurso ao longo do anúncio, por isso é estranho o que pode motivar tal escolha.
Ocorre-me perguntar o que terá passado pela cabeça dos anúnciantes para quererem tal coisa. Se lhes foi ordenado que o anúncio fosse assim, com a frase em Inglês no fim mesmo que se dirigida a portugueses, então fica esclarecido. Se não foi é mais estranho. É que os anúncios não servem para mudar as pessoas. (Lembro-me de ver alguém se insurgir porque os anúncios a detergentes e outros produtos de limpeza doméstica terem quase invariavelmente mulheres e defender que deviam ter homens. Se tivessem homens, contrapuz, não vendiam tanto porque não são o seu público alvo: os anúncios aproveitam-se da realidade como ela é, boa ou má, para vender o seu produto. Quem quiser que mude o mundo).
Os anúncios usam as características das pessoas para encontrar o caminho para as convencer. Parece-me então que colocar uma frase em inglês no final do tal anúncio dito em Português e para portugueses terá sentido junto dos ouvintes e potenciais clientes. Que sentido será esse é que não imagino.
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