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Eusébio morreu há pouco mais de um ano. O seu desaparecimento físico gerou uma histeria de massas, compreensível pelo que fez em vida e pelo que representou, e continua a representar para muita gente. Pouco após a sua morte, muito pouco tempo depois, logo se começou a falar da sua ida para o panteão. Salvo erro meu, ainda não tinha ido a enterrar e já se falava disso. Quase se podia dizer que ainda o corpo estava quente e já o queriam enviar para o panteão.
O funeral de Eusébio foi outra histeria. As cenas que se viram do seu funeral, os magotes de gente no cemitério, pareciam mais vindas de outros países que nós, do alto da nossa sobranceria, apelidamos de subdesenvolvidos.
Eusébio foi, e continua a ser, um símbolo nacional. Mas também era um homem, uma pessoa com vida pessoal, com família e amigos, não os milhares que um dia tiraram uma foto com ele, ou se sentaram com ele algures, mas os amigos mesmo que teve. Era uma pessoa normal a quem a família e os amigos não puderam fazer o funeral. O cortejo fúnebre foi de exibição às massas, as mesmas que invadiram o cemitério ao ponto de quase não se conseguir circular pelo cemitério. Revejam as imagens, coloquem-se no lugar da família e pensem se quereriam que o despedir de alguém que vos é próximo decorresse assim.
Acho que a família de Eusébio não pôde despedir-se dele como seria normal. Ainda o tinham consigo, morto mas por enterrar, quando começaram a falar em colocá-lo no panteão. Eusébio foi tirado à família. Mal passou um ano da sua morte e vão-lhes tirar ainda mais o pouco ou nada que dele tiveram.
Ressalvadas as devidas comparações, este caso lembra-me o de Catarina Eufémia que nos anos 50 foi morta pela GNR num protesto de trabalhadores no Alentejo. Uma fantástica reportagem da TSF ("Catarina é o meu nome") fala a certa altura que a sua campa foi tornada propriedade do Estado para que não fosse idolatrada pela oposição ao regime. Após o 25 de Abril a campa tornou-se propriedade do PCP para a preservar. Esteja isto certo ou errado, o certo é que a campa nunca foi da família. Como Eusébio, que morreu e deixou de ser da família.
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