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O que o agora ex-ministro da Economia fez no Parlamento, foram chifres ou cornos? A dúvida é mais que semântica…
Os meios de comunicação que consultei on-line nestas poucas horas falam todos de ‘chifres’. No site do Google Notícias escrevendo pinho+cornos aparece um só resultado. Escrevendo pinho+chifres aparecem “aproximadamente 158”. Sintomático…
Na TSF ouvi que “O ministro da Economia dirigiu um gesto considerado insultuoso (…) ao colocar os dois indicadores encostados à cabeça, simulando chifres.”O DN escreve no seu site que “O gesto de Manuel Pinho - com os dois indicadores encostados à cabeça, simulando chifres”.A institucional RTP escreve no seu site “Manuel Pinho simulou chifres”. O Público titula que “Manuel Pinho faz chifres para bancada do PCP" e o Diário IOL escreve "Dois dedos na cabeça, a simular chifres".
Por fim no site do Expresso “'Chifres' dirigidos”.Porém, na mesma notícia há um de vários subtítulos que remetem para notícias relacionadas com o título "Os cornos eram para nós" e nessa leio “"Os cornos eram para nós", desabafava a meio da tarde uma assessora do PCP” e mais à frente “Como se os cornos simulados pelo ministro fossem um manguito global”
A notícia acaba – provocantemente, acho eu, mas agora isso não interessa aqui – com a frase “Afinal, os cornos eram para quem?”
Parece que a maioria dos media acautelou-se e escreveu “chifres” e só o Expresso agarrou o evento pelos “cornos”.Fica-me a dúvida. Tinha aprendido que chifres era um galicismo, e que a palavra correcta é cornos.
Fui à procura do esclarecimento.
No site da Priberam leio que Chifre é substantivo masculino significando corno ou chavelho, mas que pode em sentido figurado ser as pontas da bigorna, e que como verbo se pode conjugar: Adelgaçar (couro) com a chifra, ou marrar ou escornar em Brasileiro.
Já Cornos é "Cada um dos apêndices duros que certos ruminantes têm na cabeça; Chifre, chavelho; Bico ou saliência de alguns ossos; Cada uma das pontas do crescente da Lua.Mas também marido atraiçoado.
Pouco adiantei. Chifre é corno e corno é chifre.
Fui ao Wickcionário em Português e leio que “chifre” é um Substantivo masculino: apêndice duro, recurvo e pontudo da cabeça de certos animais, e traição conjugal. Tem como sinónimo corno. Complementarmente leio que a etimologia é do espanhol antigo 'chifle'.
À cautela vou à procura de “Corno”. Também é substantivo, mas é substantivo masculino concreto, com plural metafônico (?). É então um prolongamento do esqueleto na cabeça de certos animais, como vaca, alce ou algumas espécies de besouros. Geralmente ocorre aos pares. Chifre, chavelho. Mas na gíria é "Homem vítima de adultério relacionamental, ou que se diz traído; marido traído;". Ora se a etimologia 'chifre 'é do espanhol antigo 'chifle', e se o espanhol, mais correctamente o castelhano, descende do Latim, sou levado a tentar opinar que 'corno' é mais correcto que 'chifre' porque a etimologia de corno remete para o Latim cornu.
Sou ainda relembrado que já Camões, n’Os Lusíadas escreveu “corno”:
- Quando um e o outro corno lhe aquentava, - Os Lusíadas II-72-3
- Na força está do corno temeroso; - Os Lusíadas III-47-4
É, assim, um termo erudito.
No final, volta 'corno' a ter chifre como sinónimo e como Adjectivo é referente a marido que foi, ou que se diz atraiçoado pela esposa;
Chifre continua a ser corno e corno chifre continua a ser chifre...
Se a semântica e a etimologia não me ajuda, vou para o campo da opinião especulatvca.
Naquele momento em que, como é consensualmente comentado, que terá perdido a cabeça, o que terá querido dizer Manuel Pinho com este gesto:
Estaria a dizer “tens chifres” ou “tens cornos”? Seria “vou-te aos chifres” ou “vou-te aos cornos”? Ninguém diz, “ponho-te um par de chifres” nem “levas um murro nos chifres”. Diz-se “tens um par de cornos” ou “vou-te aos cornos”
Corno, ou Cornos é mais rude, mais terra a terra, menos polido mas muito mais explícita. É uma das reconhecidas vantagens do vernáculo, é que sendo menos próprias, as palavras conseguem com menos latim ter muito mais sentido, contando para isso também com o tom que se projectam.
O que o agora ex-ministro da Economia fez no Parlamento, foram chifres ou cornos? Terá querido dizer “Senhor Deputado, Vossa Excelência tem chifres” ou “é chifrudo” ou “vou-lhe aos chifres”?, ou terá antes sido “Tens cornos!” ou “és cornudo” ou “vou-te aos cornos!”. A dúvida teria sido sanada de imediato se o ex-ministro e o deputado alvo da apreciação sobre as sua virtuais e presumidas protuberâncias osseas tivessem esgrimido uma eloquente argumentação física logo ali no plenário, nos Passos Perdidos ou no parque de estacionamento. Tivesse isso ocorrido e a palavra-chave seria “corno”, e valeria mais que todo o debate.
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