Há um anúncio a passar que usa habilmente uma frase que para muitas pessoas não faz sentido. Mas para muitas outras como eu, traz de súbito velhas e boas memórias. A frase é dita meio em Inglês e meio em Português: Load Aspas Aspas Enter. O ‘Load’ é lido em Inglês porque é daquelas palavras que desde sempre assim foram lidas, assim vieram do Inglês e assim ficaram, como Stop ou Play ou Enter. As ‘Aspas Aspas’ na verdade era apenas “”. Na sua forma completa a frase era escrita assim: LOAD “”.
E o que é isto? É preciso regressar a 1983/84 e ao fenomenal computador Spectrum, de 48k. E o que são 48k? Algo como o dobro do que este texto ocupa e que era o limite de memória do computador. E com essa minúscula imensidão se faziam coisas fabulosas. Sem som estereo, apenas com 16 cores, com cem vezes menos resolução do que tem um monitor actual, se faziam programas de contabilidade doméstica, de calculos de astronomia, de desenho (básico...) e sobretudo de jogos, imensos jogos de tudo e mais alguma coisa, que se compravam em cassetes tão mal pirateadas que até as capas eram fotocópias a preto e branco mal feitas e mal dobradas.
O LOAD “” era a instrução que tinhamos de escrever para carregar um programa, e era escrita na base do ecrã, supostamente branco mas na verdade era um creme-acinzentado e desmaiado. Hoje clica-se num ícone e meio segundo depois estamos a jogar. Na altura ligavam-se uns cabos de audio ao gravador e punha-se a cassette a andar. Depois era só esperar uns minutos (sim, minutos!) até o jogo acabar de carregar. Até lá era deixar passar aqueles apitos da gravação, lentamente da cassete para a memória.
A frase LOAD ASPAS ASPAS traz a esta geração muito mais depressa muitas mais memórias do que o Spectrum alguma vez seria capaz. É uma boa memória.