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O Papa ia ainda no avião quando disse que, e cito do Público, «o problema da seropositividade "não se pode resolver com a distribuição de preservativos", pois que, "pelo contrário, isso só irá complicar a situação"».
Hoje acompanhei, como pude, o forum da TSF onde, à parte alguns fidelíssimos fiéis que dizem que sim a tudo o que o Papa manda, as críticas foram na mesma onda do que se tem ouvido pelo mundo fora. Até a ONU, parece, discorda do que o Papa disse. O Governo francês publicamente afirmou a sua discordância. As ONG's que verdadeiramente lidam com o problema, arranjaram um ainda maior. Se já é difícil tentar mudar mentalidades, comentários destes só atrapalham.
Todavia o Papa está a ser coerente. O que ele afirmou é a doutrina da Igreja. E ele bem sabe qual é essa doutrina porque durante vinte e quatro anos chefiou a Congregação para a Doutrina da Fé, o novo nome da Inquisição desde 1908, mas a função é a mesma: zelar, ora pela purificadora fogueira ora pela simples excomunhão, pela subjugação de pensamento ao que a Igreja determina. Seria surpresa, senão escandalo, se ele dissesse algo em contrário.
Ainda assim, há algo na frase que estranho. Ele disse que a distribuição de preservativos irá complicar a situação. Como sabe ele disso? Ratzinger - o verdadeiro nome do Papa - é um grande teólogo, inteligentíssimo e culto. Tem, pelos vistos, muitas outras qualidades que lhe desconheciamos. Pela segurança com que garante o agravar do problema da seropositividade com a distribuição de preservativos, deve ser um fenomenal epidemologista, acima da categoria de qualquer Nobel. Como sabe ele que a situação se vai agravar? O que sabe a Igreja católica de infecções sexualmente transmissíveis que o resto da comunidade científica não sabe? A Igreja católica - lembremos! - impõe o celibato aos seus membros, por isso, para saber mais, deve ter outra fonte de conhecimento superior, certamente. É pena que só afirme, ou pretenda dar a entender, que sabe mais que a Ciência quando quer resisitr ao progresso. Se tem forma de saber mais e melhor e antes da Ciência, talvez já pudessemos ter Aspirina há mais séculos. Talvez já pudesse ter verdadeiramente salvo vidas desenvolvendo vacinas que teriam dado muito jeito quando da pesta negra. Ou, para não ser algo tão complicado, um simples penso rápido era já uma invenção bem vinda há uns séculos. Também a luz electrica que surgiu da cabeça de Edison já podia existir há mais tempo, se assim o tivessem querido. E depois podiam der dado ao Homem a rádio, a televisão, oo motor a jacto do avião que ele usa, para a Humanidade se desenvolver mais e melhor. E mesmo sem electricidade, que não disseram que já sabiam antes, podiam ter-se antecipado ao Guttenberg. Quanto conhecimento podia ter sido distribuído mais cedo, e quanto mais conhecimento esse geraria. Ah! pois é... nisso de espalhar o conhecimento a Igreja não é muito fã. Logo no princípio da história que proclama, e sobre a qual quer afirmar legitimidade, mostra como o Homem foi castigado ad eternum por ter provado a maçã do conhecimento.
Um tipo de comentário tem sido transversal na reacção de diferentes organismos pelo mundo fora: a Igreja e o Papa, estão fora da realidade. O Papa já está noutra. Está no ceú, só pode, porque aqui na Terra o que diz não faz sentido. Aliás, já ia perto quando disse aquilo: ia no avião. Assim faz sentido o que disse. Se de um ponto de vista terreno, se lê o disparate das suas palavras, no Céu (se tal coisa existe) encontrará público naqueles a quem é indiferente estarem ou não infectados por qualquer doença sexualmente transmissível. É que lá, suponho, tanto faz ter ou não ter doenças, e o preservativo, tornando-se inútil, é assim uma coisa que só complica. Ou se calhar não, porque lá não devem deixa que essas coisas aconteçam.
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