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Há muitos anos atrás ensinaram-me o que quer dizer 'bastante', e nunca mais esqueci. Diariamente oiço a palavra usada sem sentido Na rádio perguntaram a uma concorrente se tinha telefonado muitas vezes, ao que ela disse "bastante". Numa entrevista-anúncio é perguntado a alguém se mudou muito, ao que responde "bastante".
"Bastante" quer dizer apenas quanto baste. A senhora que telefonou a concorrer pode até só ter telefonado uma vez. Terá sido o suficiente, quanto baste ou apenas o "bastante" para ganhar. Também quem mudou muito pode não ter mudado nada. Pode ter tentado mudar e chegado à conclusão que não conseguia, ou não queria ou qualquer outra coisa, pelo que a tentativa poderá ter sido o bastante para não mudar. Em suma, o comentário deles é inconclusivo. Bem lido fica-se sem saber o que querem dizer.
Permitam-me que leve o assuntou para um patamar hipotético mas exemplar do uso desmesurado da palavra. Todas as pessoas gostas dos seus pais e mães, mas há quem mate o pai e a mãe e muitos mais pelo caminho. Muita gente haverá que se lhes perguntarem o quanto gostam do pai ou da mãe responderão "bastante", o que tanto pode querer dizer que gostam muito, como é natural, como querer dizer que não têm pachorra para os aturar, que não os querem ver e só lhes apetece descarregar uma caçadeira ou dar uma facada. Ou sejam gostam o "bastante" para os matar, por exemplo.
Isto do uso do 'bastante' a torto e a direito chateia-me muito, o bastante para o escrever aqui.
Vim da FNAC deslumbrado com uma coisa tão fantástica como simples. Uma síntese da Genialidade, com a Arte consubstanciada em simples pedaços de plástico: um jogo de xadrez, porventura o mais genial entretenimento criado pelo Homem, com figuras do Astérix! E as escolhas das personagens para representar cada uma das peças não podia ser mais perfeita. Do lado romano estava César e Cleópatra, como rei e rainha. Dois centuriões eram os bispos, dois leões como cavalos e duas colunas romanas como torres. Na linha da frente os peões eram representados por oito magníficas àguias imperiais. Do lado gaulês estava Abraracourcix e Bonemine, como rei e rainha, Astérix e Obélix como bispos, dois javalis como cavalos e as torres eram dois belíssimos e elegantes menires, devidamente adornados com um laçarote vermelho (como aquele menir que o Obelix oferece à Falabala, lembram-se?). Os peões gauleses eram oito orgulhosos galos de peito feito e crista levantada. Podia ser mais perfeito? Podia! Era eu ter um, e o meu deslambramento era já outra coisa.
Fiz o serviço militar obrigatório por obrigação. Aprendi algumas coisas, retirei algumas lições. Não posso dizer em absoluto que não tenha gostado de alguma coisa, mas não gostei de ter ido por obrigação. Em tempos de paz não faz sentido a obrigatoriedade do serviço militar. Por isso estranhei as notícias sobre o Dia da Defesa Nacional, que afinal não é um dia mas sim muitos, já que só caba em Maio do ano que vem. Pelo que li fiquei a perceber que afinal é obrigatória a comparência dos jovens, potenciais mancebos e mancebas. No site do Ministério da Defesa Nacional lê-se que "A (...) comparência é um dever militar obrigatório para todos os cidadãos portugueses que cumpram 18 anos de idade". Numa notícia do Público sobre este assunto leio que segundo a dirigente da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), Manuela Góis, há "coimas altíssimas e interdição de candidatura à função pública". Para quê isto? Para quê coimas altíssimas? Para quê a interdição de candidatura à função pública? Haverá também retaliação semelhante para os jovens que se embebedam e aceleram feitos parvos em ruas e estradas como se fossem os Fitipaldis da Buraca? Haverá retaliação semelhante para os que não separam o lixo? Para os que não se instruem? Para os que não votam? Para os que não dizem sequer 'bom dia' a alguém? Os castigos devem ser proporcionais ao erro. Não sendo o serviço militar obrigatório porque o há-de ser esta comparência ao Dia da Defesa Nacional? O que os jovens ganham com a experiência será equiparável às coimas altíssimas ou à proibição de candidatura à função pública? Não estão a abusar? A não sensibilização "para a temática da defesa nacional e divulgar o papel das Forças Armadas, a quem incumbe a defesa militar da República" é assim tão grave?
Um homem que havia fugido da prisão há 14 anos foi apanhado depois de participar num programa da TVI. Foi reconhecido por familiares que, pelos vistos, não engraçavam muito com ele, e no final tinha a polícia à sua espera.
Não vi o programa em directo, nem em diferido, nem sequer imagens, pelo que não sei como se apresentou no programa. Ter-se-à armado em Karadzic e deixado crescer barba e cabelo para poder continuar a andar na rua impunemente? Ou apareceu sem qualquer disfarce? E se foi este o caso, estaria convencido que ninguém o conheceria, que teria sempre muita sorte ou será simplesmente parvo?
Leio e cito numa notícia do Público, com o título "SIC condenada a pagar 145 mil euros a Ricardo Rodrigues" que "Ricardo Rodrigues abandonou uma entrevista à revista Sábado, em Abril passado, retirando os gravadores aos jornalistas, quando estava a ser questionado sobre o relacionamento da sua demissão do governo açoriano com o escândalo da pedofilia". Na noticia é de novo referido que as reportagens da SIC "divulgadas em Dezembro de 2003 (...) indiciavam Ricardo Rodrigues como implicado no processo de pedofilia". Por causa disto o Sr. Ricardo Rodrigues pôs um processo em tribunal à SIC, que pelos vistos ganhou, e provocado pelo aflorar do mesmo assunto pelos jornalistas da Sábado durante uma entrevista retirou-lhes os gravadores. As imagens em vídeo, se se recordam, mostram-no a pegar nos dois gravadores e a levá-los ao bolso. Quase uma semana depois veio depois assumir publicamente a culpa, mas sem devolver os gravadores, dizendo que foi um acto irreflectido. Estranho que numa pessoa a quem alguém reconhece qualidades para ser deputado precise de tantos dias para arrefecer as ideias e perceber o disparate que fez.
Na notícia do Público gosto do cuidado na escolha do verbo para identificar a acção. Algum órgão de comunicação menos escrupuloso podia ter escrito "roubou", ou nalguma comunicação menos formal podia-se dizer "gamou", "surrupiou", "subtraiu", "fanou". Não sei qual seria mais correcto porque pelas últimas notícias que conheço do assunto os proprietários dos gravadores ainda não os tinham visto devolvidos. Mas o Público foi esperto ao usar o verbo 'retirar'. Só temo que tocando no assunto do "escândalo da pedofilia" que, noticia bem o público "O tribunal deu como provado que o ex-governante açoriano "não foi interrogado", nem "constituído arguido" e "nem sequer referenciado como suspeito de quaisquer actos que estiveram a ser investigados" no processo de pedofilia, entretanto já julgado", temo que por causa disto o Sr. Ricardo Rodrigues também queira "retirar" de circulação todas as edições de hoje do Público. Eu já guardei a minha... A notícia do Público está aqui.
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