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As eleições do PSD prometem. O Menezes não conduziu bem o barco. Mandou borda fora o Marques Mendes prometendo melhor, mas não fez. Parece-me que, por outro lado, também houve quem lhe tenha cuidado de lhe "fazer a folha", mas pronto... Agora revelam-se os muitos PSD's que há lá dentro.
Já não sei quantos candidatos há. Um deles, Patinha Antão, ficou satisfeito por serem os três economistas, mas já são mais que três, parece-me. Há o Pedro Passos Coelho, um 'jovem' que está a fazer o primeiro alto vôo, o Patinha Antão e a Manuela Ferreira Leite que por excelentes economistas que sejam têm na expressão uma antipatia que parece só queimar votos, e mais um ou dois menos mediáticos. E depois há o Santana Lopes e o Alberto João que ainda não abriu o jogo.
Acho piada a que Santana Lopes e Alberto João Jardim queiram ser candidatos. Estão no seu direito, talvez até no seu dever enquanto militantes de um grande partido, mas teria piada se algum deles ganhasse. É que o nosso sistema partidário tem evoluído para uma bipartidarização da vida política e quem se candidata a líder do PSD ou do PS arrisca-se a ser Primeiro Ministro.
A propósito, a bipartidarização só não aconteceu já há mais tempo porque os partidos com menos deputados muito têm lutado contra as inúmeras maquinações inventadas e tentadas pelo PS e pelo PSD, como é o caso da recente legislação autárquica, para tornar a vida política portuguesa absolutamentamente bipartidária, mas isto é só um aparte.
Ora imaginem só o Alberto João Jardim como Primeiro Ministro. O Santana Lopes não é preciso imaginar, basta lembrar os poucos meses que lá esteve e quando acabarmos de rir à gargalhada, arrefecer os ânimos e pensar que para aquele lugar será melhor alguém com alguma seriedade.
Terá Alberto João Jardim essa seriedade? Não interessa que se mascare no Carnaval. Mascara-se, e faz bem, diverte-se e assume. Não faltam por aí mascarados de muita coisa que não assumem coisa nenhuma. Mas seria Alberto João Jardim capaz de enquanto Primeiro Ministro mandar o tipo de bocas que manda da Madeira para o "contenente" enquanto Presidente do Governo Regional? Por um lado, creio que é homem para fazer o que muito bem lhe dá na mona, o que é um sinal raro de coragem, hoje em dia. Mas não acredito que não se contivesse bem mais do que a partir do Funchal. Evitaria ele sessões plenárias na Assembleia da República perante um qualquer chefe de estado ou de governo apenas para não ter de mostrar aquelas gentes da esquerda que, diz ele, poluem o ar?
Mas há ainda outra coisa: será Alberto João Jardim capaz de largar a Madeira? Já tantas vezes anunciou que ia embora e lá continua. Ele iria liderar o PSD a partir do Funchal? Fariam um part-time? Só para não ter de largar a Madeira creio que ele não se canditará.
E agora para acabar a rir, o Santana Lopes quer liderar o PSD, e se isso acontecer, ele pode muito bem voltar a ser Primeiro Ministro!
Para quem já acabou de rir, podem agora compará-lo com o Berlusconi, que também saiu do governo por baixo e agora voltou. Só o penteado não é parecido, mas é cómico em ambos.
Na quinta-feira passada saiu na revista Visão uma entrevista a um senhor do PSD na qual, consta, ele se manifestava 'disponível' para liderar o PSD. Hoje já não está, mas não é isso que me interessa aqui. Não me interessa o PSD, apenas o facto de o senhor se manifestar 'disponível'.
Nenhuma outra publicação deu a mesma notícia. Na sexta-feira também não. Esperei passar o fim-de-semana para ver as manchetes de outros jornais, mas nada. Só a Visão descobriu que o senhor estava disponível.
Descobriu? Ou foi-lhe dito? Se descobriu então é um grande furo porque o conseguiu antes de mais ninguém. Mas não acredito. A Visão é uma revista, não é uma televisão, uma rádio ou uma agência de notícias que lance as notícias logo que as sabe. O que o senhor disse já era sabido pela revista. Aliás tiveram de o entrevistar primeiro, de o fotografar, de redigir o texto, eventualmente de lho enviar para concordância, de fazer a composição gráfica, de enviar para a gráfica para então na quinta-feira sair como novidade.
Não acredito que a Visão tenha descoberto. Acredito mais que o senhor tenha feito a Visão saber, imagine-se como, que estava disponível para dar uma entrevista na qual diria que estava 'disponível' para liderar o PSD. Ou então a Visão, sabendo-o crítico da liderança agora demissionária, tê-lo-à convidado a fazer a entrevista na qual ele acabou por se manifestar disponível.
Mas até quinta-feira o jogo não foi aberto, pelo que alguma coisa se combinou. A que preço? Quanto custa pedir para ser entrevistado? Quanto custa garantir que no dia X, que não é casual, sai determinado artigo com determinada informação? Isso tem um preço. Pode não ser dinheiro, pode ser uma dívida de favor, de mais tarde fornecer informações com o anonimato garantido, mas é um preço. Estes políticos prestam-se a estes negócios, e os meios de comunicação também. Para mim o senhor juntou-se a mais uns tantos que já usaram o mesmo esquema e está apresentado.
Quanto à Visão, louvo a mudança de atitude. Confesso que não a leio, e raramente a folheio, mas é louvável que havendo alguém que se tenha manifestado 'disponível' para ocupar determinado cargo político, a Visão tenha desta vez (e espero que em todas as outras em que não a folheei) respeitado a figura de quem se manifestou 'disponível', independentemente do cargo em causa. É que há uns anos atrás, quando o PS ainda não havia anunciado ninguém como candidato à Presidência da República, e antes de Sampaio se auto-anunciar, houve um senhor que se manifestou 'disponível' para ser candidato. Era o senhor Sottomayor Cardia, que até já faleceu. Na altura, para ilustrar essa disponibilidade, a Visão colocou na capa uma foto do senhor de roupão, desalinhado e desgrenhado, fazendo de toda a composição uma imagem jocosa de um acto nobre, ridicularizando-o e acabando ali com a história. Para mim parece-me que fez um acto político baixo, e não uma notícia, mas é a minha opinião apenas.
Ainda bem que a Visão já não faz coisas daquelas, mas daquela não me esqueço. Eu também estou disponível para ser chefe de gabinete de uma secretaria de Estado qualquer, desde que dê um bom ordenado. Não me querem entrevistar? Prometo já meia dúzia de fotocópias de documentos e uns e-mails extraviados por acaso, só para alimentar as notícias.
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