[ Radio Popular e outras qu...
[ Mundo pequeno, ignorância...
[ Ronaldo é apresentado hoj...
[ Coisas úteis (?) que se a...
[ Eusébio no Panteão não. P...
Estranha data esta do 29 de Fevereiro. Como se comemora algo ocorrido neste dia? Ou como se recorda? Como se celebra um aniversário? No dia anterior, a 28? Ou só no 1º de Março? E quem tiver algo triste, daquelas coisas que precisam ser recordadas para a ferida ir sarando, como passa os outros anos? Nunca tinha pensado nisto.
Por coincidência de data fui chamado pela newsletter do Ciência Hoje para uma notícia sobre aniversários especiais. É muito giro o texto sobre os aniversários a 29 de Fevereiro.
Dentro do carro num pequeno engarrafamento de cidade, pára-arranca, à chuva, já anoitecera, e olhei para o lado como se suspirasse. Reparei em algo que, pela distracção dos nossos dias, não via há muito: um escorredouro de águas pluviais, daqueles que vinham por dentro dos prédios e desembocavam rente ao passeio numa saída rectangular de chapa torcida.
Na fracção de segundo em que o meu olhar ali se fixou escorreu com a imagem daquelas águas uma eternidade de memórias. Lembrei-me de onde os conhecia e tudo fui escorrendo enquanto um sorriso se aflorava.
Lembrei-me do passeio da rua da minha avó, aquelas poucas dezenas de metros que me pareciam quilómetros. Os bordos empenados dos passeios que foram pistas de alta velocidade onde ganhei muitas corridas de carrinhos. As portas dos prédios que ora eram barreiras, ora portões de castelos, ora pontes de comando de naves espaciais. As canalizações embutidas nos passeios que tanto foram metas de sprints como fronteiras de territórios de grupinhos de crianças. As caixas de água dos prédios que eram os mais secretos esconderijos imagináveis de coisas que ninguém sonhava, embora hoje perceba que era mais por não interessarem a alguém do que pelo seu valor ou utilidade.
Outras coisas já foram para o mar do esquecimento e não mais as recupero. Outras ainda por mim andam à deriva e não as consigo apanhar por agora, mas não importa.
Um instante depois de ter olhado já não mirava mais, mas a memória ficou avivada. Memórias felizes, lavadas do seu pó por bem ditas águas.
Na semana passada houve uma equipa de futebol portuguesa que foi jogar à cidade de Nuremberga. Não sei, nem interessa aqui, qual foi a equipa. Ainda antes do jogo foi logo feita notícia do que ainda não acontecera, como é habitual na nossa televisão.
A reportagem sobre o facto, ainda não ocorrido, começou com imagens de oficiais nazis na segunda guerra mundial. Lembro que a pseudo-notícia era sobre um jogo de futebol em Fevereiro de 2008…
Após os primeiros instantes de incredibilidade, lá descortinei qual o sentido daquelas imagens para ilustrar a pseudo-notícia, e até encontrei alguma lógica. Se a notícia era do que ainda não aconteceu as imagens ou seriam virtuais ou do passado.
Ora Nuremberga que passado tem? Para o responsável pela reportagem Nuremberga é nazi ou, pelo menos, foi nazi. Só isso e nada mais.
O essencial de referência da cidade é que foi um bastião nazi. É verdade, foi o palco dos grandes comícios anuais do partido nacional socialista alemão, e também por isso foi lá que se fizeram os julgamentos dos responsáveis nazis capturados vivos.
Pessoalmente, entendo que reduzir a história de uma cidade a um facto revela uma estreiteza intelectual que, ultrapassando a burrice, raia a estupidez. Eu não conheço Nuremberga, nunca lá estive. Sei do passado nazi mas nunca reduziria o passado da cidade a isso. Tem de certeza mais.
Fui procurar…
Descobri que foi a capital não oficial do Sagrado Império Romano, que foi o centro do Renascimento nos territórios da actual Alemanha, que aceitou a Reforma Protestante em 1525 e que a Paz de Nuremberga, pela qual os Luteranos ganharam importantes concessões, foi lá assinada. Descobri ainda que o primeiro caminho de ferro alemão foi entre Nuremberga e uma cidade vizinha, em 1835, que os primeiros relógios de bolso foram de Nuremberga, que no século XIX se tornou o coração industrial da Baviera, ao ponto de a Siemens ser o maior empregador industrial da região. Na astronomia foram inúmeras as contribuições, bastando referir, como exemplo, que a parte principal do trabalho de Copérnico foi lá publicado, em 1543.
Terá, certamente muito mais para ver, e haverá mais para contar. Mas de certeza que não foi apenas nazi, felizmente!
Talvez haja uma equipa que vá a Paris e a reportagem comece com as imagens de Hitler no Trocadero a olhar para a Torre Eiffel, ou, inversamente, haja uma equipa que venha a Lisboa e ilustre a reportagem com as gravuras do regicídio de 1905, cujo centenário foi há pouco comemorado e está fresco na memória.
Irra!
[ blogs
[ smobile
[ Informação
[ TSF
[ BBC
[ Astronomia
[ StarDate Online - Your Guide to the Universe
[ Observatório Astronómico de Lisboa
[ Aprender