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A atleta Naide Gomes é a quarta melhor atleta do mundo em salto em comprimento porque ficou em quarto lugar no campeonato do mundo de atletismo que está a decorrer em Osaka, no Japão. Depois do triunfo de Nelson Évora, que muitos saúdam mas que, temo eu, brevemente esquecerão, todos esperavam que isto fosse uma onda que por arrasto levasse outra medalha de bandeja à Naide Gomes. As medalhas são para os três primeiros classificados, entre dez, ou trinta ou os que forem que concorrem. A Naide ficou num honradíssimo quarto lugar mas não teve, naturalmente, qualquer medalha.
A reacção dos meios de comunicação no dia 29/8 foi de tratar o assunto no título da notícia como se isto fosse uma perda, um desgosto, uma tragédia, uma derrota. Vejam títulos que encontrei numa pesquisa breve:
Sic: Naide Gomes falha medalha
Público.pt: Naide Gomes falha pódio no salto em comprimento
Público (edição impressa, pg.26): Naide esbarra no muro russo e falha segunda medalha
Expresso: Naide Gomes falha pódio por três centímetros
Record: Naide Gomes falha medalha por 3 centímetros
TVI: Naide Gomes falha medalhas no salto em comprimento
TSF: Naide Gomes perde bronze por três centímetros
RTP: Naide Gomes perde bronze por três centímetros
Diário Digital: russas roubam medalha a Naide Gomes
A Bola: Naide Gomes a três centímetros do pódio
Jornal de Notícias: Naide Gomes ficou a três centímetros do bronze
Correio da Manhã: Naide Gomes fora das medalhas
A Plataforma: Naide Gomes fica fora das medalhas
Sporting Clube de Portugal: Naide Gomes 4ª no Mundial de Osaka
Contaram? Oito títulos põem a culpa na atleta. É a Naide que falha (Sic, Público.pt, Público edição impressa, Expresso, Record, TVI) ou é a Naide que perde (TSF e RTP, duplicada na tv e rádio).
Um título chuta a culpa para as russas (Diário Digital).
Quatro títulos são quase neutros na culpabilização mas continuam negativos, com a formulação “a três centímetros” ou “fora das medalhas” (A Bola, Jornal de Notícias, Correio da Manhã, A Plataforma).
Um único título é absolutamente neutro e objectivo: Naide Gomes 4ª no Mundial de Osaka (Sporting Clube de Portugal).
Talvez a Naide seja do Sporting, confesso que não sei, nem isso interessa aqui.
Em catorze títulos há nove negativos e culpabilizantes. Agrava o facto de serem grandes órgãos de informação, de aculturação, de formação de opinião.
A verdade é que a Naide Gomes é a quarta melhor atleta do mundo em salto em comprimento.
Qual outro português é o quarto melhor do mundo em alguma coisa?
Qual empresa portuguesa é a quarta melhor do mundo nalgum produto? (salvaguardando que algumas são as melhores na sua área)
Qual jornal ou rádio ou televisão portuguesa é a quarta melhor do mundo?
Que clube de futebol português é o quarto melhor do mundo?
Abundam até à náusea os excessos de centímetros dedicados ao futebol. Basta um ligeiro arranhão num treino, uma escorregadela num jogo, um olhar na inevitável e quase sempre tão vazia conferência de impressa, e logo transbordam os rios de tintas e bytes e ondas hertzianas destes media todos relatando o que não aconteceu ou talvez venha a acontecer. Creio que já só falta mesmo noticiarem jogos de solteiros e casados.
Quanto aos três centímetros longe de mais façam a experiência.
Experimentem saltar o que a Naide Gomes saltou. Não conseguem. Experimentem saltar e meçam quanto saltam. Agora tentem saltar de novo mas mais longe. Só mais três centímetros. Dois dedos, um nariz, talvez. Quem consegue?
A carrinha é um filme de Stephen Frears de 1996 que eu vi há dez anos e que hoje, especialmente, quero lembrar. É mais um exemplo de quão bom é o cinema inglês. De como se pode contar uma história com detalhes, suposições e subtis insinuações sem ter que se contar tudo como se fossemos crianças. Fala de dois desempregados que arranjam um negócio para sobreviver e de como a sua vida familiar se alterou. Tem uma história que se vai ramificando em mini-histórias, e que por sua vez se voltam a cruzar de novo. Nada do que se vê na esmagadora maioria dos filmes americanos em que quase tudo é previsível e o raciocínio do argumento tão linear como um carril. Desde então tornei-me fã do Stephen Frears, e por isso vi Mrs Henderson Presents (2005) e The Queen (2006). Gostei muito de ambos ao ponto de ter comprado o primeiro para rever em casa.
No Diário de Notícias de 13/08 um artigo com o título “RTP corta regalias a estrelas” dizia que “A RTP está a renegociar a sua relação contratual com alguns dos seus apresentadores” e que “Até aqui, por exemplo, Merche Romero (que não fazia parte dos quadros da empresa) recebia um salário fixo, na ordem dos 7500 euros, independentemente dos programas que apresentasse”.
7500 euros por mês? Mil e quinhentos contos?!?
Nunca suportei ver um programa apresentado pela senhora. O meu mau feitio tem uma elevadíssima intolerância à vacuidade de discursos e de sentido. Talvez a vacuidade não lhe seja natural, sendo apenas decorrente da natureza do programa. Pode por isso não ser culpa dela mas de quem lhe paga para fazer aquelas coisas. Por curiosidade gostava de saber quanto pagarão a outros, menos estrelados, mas mais plenos de sentido e utilidade, pelo menos para mim.
Seja a vacuidade natural ou imposta pela forma do programa, os 7500 euros são ofensivos, não só pelo inexplicável volume como, sobretudo, por serem obrigatória e compulsivamente suportados por todos, mesmo os que não querem ver, ou não podem.
No dia 25/07/2007 li uma notícia do Jornal de Notícias segundo a qual “Semáforos e fontes pagam taxa de TV”
Lia-se que a Associação de Municípios pedia ao Governo a revisão da lei da taxa de televisão. O serviço público de televisão, que entendo dever existir é pago por uma taxa incluída no serviço de fornecimento de electricidade. Nesse artigo lia-se que “Sistemas de rega e de iluminação pública, semáforos, furos de captação de água, painéis de informação e até as casas de banho públicas estão obrigados ao pagamento da taxa de televisão, pelo simples facto de consumirem energia”.
Ou seja, tudo o que usar electricidade paga taxa de televisão, mesmo que não veja aquela televisão.
A bem da Democracia que deve garantir igualdade a todos, mesmo que alguns não gostem, bem como a apenas alguns mesmo que a maioria não goste, acho bem que o Estado suporte um serviço público. A fundamentação do raciocício é simples: o Estado, embora não pareça, somos nós e existe para gerir e regular o que é de todos, a coisa pública, a Res Publica em Latim.
Chateia-me ser obrigado a pagar o que para mim é fútil, vazio, inútil. Mas talvez não o seja para outros, e esse é o preço da Democracia, e por isso tolero o pagamento.
O que me chateia mais é o volume do que se paga para um retorno frequentemente tão baixo. A relação preço/qualidade é, acho eu, má. Se calhar por haver tanto a pagar, tanto desperdício, tantas estrelas do jet set, tanto espalhafato, tantas reportagens em directo do que ainda não aconteceu ou já acabou, se calhar foi para poder pagar tudo isso que o Governo, pela mão do legislador, determinou que tanto eu como os semáforos, bebedouros, painéis de informação, paragens de autocarro, casas-de-banho públicas e outras coisas assim paguem aquela taxa. Aritmeticamente, distribuindo por todos custa menos. O problema é que quem paga a iluminação pública são os munícipes, que por sua vez são na maioria consumidores de televisão.
Por mim, enquanto pagante, não sei se me assemelho mais a um bebedouro ou a um semáforo...
Foi noticiada a repetição de uma tradição em Esposende, a de dar banhos forçados às crianças nas praias da zona.
Segundo a notícia a tradição determina como obrigatório (?!?) dar três banhos seguidos para prever de uma série de maleitas (assim quase como a vacina da meningite, mas em versão empírica e que cura tudo), e depois vão dar três voltas a uma igreja com uma galinha na mão e passar por baixo de um andor (o que deve acabar com qualquer possibilidade de vir algum dia a sofrer seja do que for, obviamente). E tem que ser três vezes ou outro número ímpar, senão a coisa não resulta, garantem.
Se isto não é superstição pura, então alguém me explique o que é. E a Igreja Católica pactua com isto, não explícita mas tacitamente, porque não tem outro remédio. Se exigisse aos seus seguidores o exercício racional e a abstracção que uma crença séria no que é metafísico necessariamente supõe, ninguém lá ia. Consubstanciando assim as coisas, é muito mais fácil, as pessoas vêm, tocam, acreditam, como São Tomé, afinal. Por outro lado, isto é uma indesmentível continuação das eternas crenças pagãs que, longe de estarem extintas, continuam a ser praticadas todos os dias, como é isto prova. Os enfeites hoje são diferentes, mas no essencial são as mesmas coisas que andam no nosso subconsciente e nos sustentam há muitos milhares de anos.
Voltando a Esposende, não me vou alongar na estimativa da temperatura da água da praia. Estavam quase todos arrepiados, com excepção de um ou outro machão que não quis dar parte de fraco.
O que me arrepiou foi, por um lado, o pânico das crianças forçadas a mergulhar – três vezes! – e, em contraste, a alegria dos pais que pagaram 5€ por criança a estranhos para lhe agarrarem nos filhos e os mergulharem à força nas águas de Esposende. Se na companhia dos pais, ao seu colo, a maioria das crianças pequenas têm natural medo da água, o que terá passado por aquelas cabeças sentindo-se vendidos pelos pais e raptados por um estranho? Entretanto o estranho, vestido dentro de água, sorria com a aparente cândida expressão de quem diz “vá lá, isto não custa nada” enquanto as crianças tentavam emaranhar por ele acima tentando fugir do castigo.
Não sei a quantidade de pessoal que estava na praia, nem retive a estimativa indicada pelo relator, mas as imagens mostravam muita gente. Foram muitas as crianças forçadas a ir ao banho – três vezes! - na praia de Esposende. Foram muitos 5€ muita vez. Quase que aposto que ninguém deve ter pedido factura, como o Governo agora implora, mas também não deve ser preciso. Aqueles mergulhos todos – três vezes! – mais as voltinhas à igreja com a galinha na mão e a passagem por baixo do andor, entre tantas maleitas deverão proteger também de uma inspecção das Finanças.
Poucas coisas me põem com melhor disposição do que ouvir uma música de que gosto, especialmente se a não oiço há bastante tempo.
Hoje de manhã, em jeito de memória da rádio, passou o Cairo dos Taxi. Uma música de 1981-82, por aí.
Tem o som típico da época, o rock de uma bateria, um baixo e uma guitarra complementados pela voz que, sendo banal como a maioria das vozes no rock, tem o dom de se comportar e contribuir como um quarto instrumento.
Lembro-me que na altura o disco foi editado dentro de uma caixa metálica com desenhos de inspiração egípcia. A música já a tenho numa ou outra colectânea. A caixa gostava de tê-la. Deve hoje ser uma preciosidade.
Ouvi hoje num noticiário televisivo mais uma pérola do 'futebolês', dialecto que se caracteriza pelo uso abusivo e criativo de figuras de estilo, a maior parte das vezes sem estilo algum.
Hoje, em antecipação a umas imagens que passariam instantes depois, ouvi isto: “…e Fulano carimbou a sua marca na trave”.
Perdoem-me a linguagem que vou usar, mas vou ser absolutamente honesto. Quando ouvi aquilo, juro que pensei “ele deu com os cornos na trave!”.
Afinal não foi tão grave, nem tão produtivo. A realidade transcrita pelas imagens que sucederam tão criativa descrição mostravam apenas um chuto na bola e a sua trajectória até ao impacto na trave da baliza.
A culpa da confusão é minha, dada a minha profunda iliteracia no futebolês.
Hoje foi notícia o primeiro treino do Benfica com o novo treinador. Não ouvi ninguém dizer isto, mas digo eu: era um treino de futebol! Não quero que confundam o assunto com basquetebol, voleibol, tiro ao arco, ciclismo, esgrima, natação, atletismo, andebol ou qualquer outra coisa.
Um noticiário indicou que estiveram cerca de três mil pessoas a assistir a este treino – de futebol, atenção! Sendo hoje uma terça-feira de Agosto, devo presumir que aquelas três mil pessoas estão de férias ou desempregadas para poderem estar ali.
Ocorreu-me pensar: se estivessem antes a trabalhar quanto produziriam?
Procurei então dados que há uns anos trabalhei exaustivamente: valor horário de trabalho em todos os países da União Europeia e de outros países desenvolvidos como termo de comparação. Menos exaustivo desta vez, encontrei o Eurostat News Release nº 23/2003, de Março de 2003, onde leio que o valor horário médio do trabalho em Portugal era de 8,10 Euro. Noutro sítio encontrei o valor de 9,60€. Trabalhemos então com este valor.
Admitindo que cada uma daquelas três mil pessoas estiveram lá apenas uma hora e que, em média, gastaram meia hora para ir e outro tanto para vir, tiveram um gasto total de duas horas cada.
Duas horas de três mil pessoas a 9,60€ cada hora de cada uma valem 57.600€! Assim, quanto valem?
Segundo uma notícia da BBC do dia 15/08 uma ferramenta informática da Wikipédia, o Wikipedia Scanner, consegue identificar o endereço de quem editou a página daquele artigo pela última vez. A Wikipédia é uma enciclopédia on-line que qualquer um pode editar, pelo que se presta a estes abusos, mas esta ferramenta permite identificações curiosas.
Leio nesse artigo que a partir de um computador…
...da CIA foi introduzido um “Wahhhhhh” imediatamente antes do perfil do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
...do Partido Democrático americano mudaram o perfil de uma figura do partido rival apelidando-o de idiotic," a "racist", and a "bigot".
...do Vaticano foi removido conteúdo de uma página a propósito de Gerry Adams, católico e líder do Sinn Fein (notícia desenvolvida dois dias depois).
...de uma empresa que comercializa máquinas de votar nos EUA foram removidos parágrafos em que era dito que o presidente dessa empresa fora um dos maiores angariadores de fundos para a eleição de George Bush.
Por cá logo alguém se entreteve a descobrir que a biografia do nosso primeiro ministro também foi editada e disso logo fez notícia.
Ironicamente, nesse dia, ou num dia muito próximo, a citação do dia da Wikipédia era: The printing press is the greatest weapon in the armoury of the modern commander, de T. E. Lawrence.
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