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Hoje é dia 14 de Fevereiro, e é quarta-feira, e é (dizem...) dia dos namorados.
Para já, não me vou alongar muito sobre a validade da afirmação “é”, assim tão taxativa, quanto à data e dia da semana. Somos, por defeito, etnocentricos e sendo para nós quarta-feira, geralmente damos por adquirido que também o é para todo o mundo. Só para dar um exemplo, hoje também é dia 26 do mês Muharram do ano 1428 no calendário islâmico; 26 do mês Sheva do ano 5767 no calendário hebreu; 25 do mês Bahman do ano 1385 no calendário persa; 25 do mês Magha do ano 1928 no calendário civil indiano (v. www.fourmilab.ch/documents/calendar/). Aquilo a que chamamos “hoje é dia ...” não é mais que uma referência só nossa, e não somos assim tantos a guiarmo-nos pela mesma referência. O que “é” para nós, não o “é” necessariamente para os outros também.
Mas vamos ao dia dos namorados. Pode parecer discurso de velho mas não me recordo de há uns 20 ou mais anos atrás se celebrar este dia, pelo menos nesta forma. O dia dos namoros era o de Santo António, a 13 de Junho, padroeiro dos casamentos e, consequentemente, do seu presumível antecedente: o namoro.
Esta ‘febre’ do dia dos namorados parece-me recente. Parece mais uma aculturação que estamos, voluntariamente ou não, a sofrer induzida pela massacrante quantidade de filmes e séries e notícias que os americanos exportam à tonelada. Não os critico por o fazerem porque é assim que ganham dinheiro, mas critico a passividade com que damos certas coisas por adquiridas. Há já, pelo menos, uma geração inteira que não imagina o que seja cinema sem pipocas, por exemplo. Embora concorde que não há mal nenhum em comer enquanto se vê um filme, entendo como deplorável o incómodo causado os demais espectadores com o ruído da trituração. A liberdade de cada um acaba nos limites dos direitos dos outros.
Esta aculturação manifesta-se de muitas outras maneiras. Hoje celebramos já o dia das bruxas, coisa tão tipicamente nossa como o é dançar o samba no carnaval de Ovar. Acredito que a maioria dos jovens associe facilmente o 4 de Julho aos EUA, mas duvido que conheçam a justificação do 1º de Maio, a extensão da problemática conducente ao 25 de Abril, ou o porquê da associação entre Camões e o 10 de Junho. Pode parecer coisa insignificante não conhecer o porquê destas datas, mas pode ser essa ignorância que não os faça incomodar se algum dia lhes propuserem acabar com a sua celebração, e aí, democraticamente, consegue-se acabar com alguns feriados...
O dia dos namorados também dá jeito à economia. As lojas enchem-se de corações e fitas côr-de-rosa. Lançam-se perfumes, relógios, telemóveis, caixas e caixinhas, e toda uma imensidão de coisas a propósito do tema, sempre côr-de-rosa, ou vermelho-fogo. As pessoas cedem, naturalmente, a estes incentivos e compram relógios e velas e caixinhas e postais, e trocam mensagens e vão jantar e vão et cetera e tal.
Já se começou também a celebrar o dia dos avós, mas não sei quando é. Para já ainda só é dia dos avós, mas alguém se lembrará de encontrar uma data para o dia do avô e para o dia da avó. Há mais santos que dias no ano (só à conta do último Papa quantos mais santos se fizeram?), pelo que facilmente se encontrará um que sirva de pretexto para essas datas, como são para todas as outras. Depois virá o dia do tio e o dia da tia. Na Assembleia da República propôs-se, em 2006, a criação do dia do cão. Por justiça não nos esqueçamos então do gato, do canário, do hamster, do cágado, dos peixinhos e da iguana.
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